Advento da Informática na Ortodontia

Cléber Bidegain Pereira, C.D.

Transcrito do programa oficial do IV Encontro Nacional de Ortodontistas da Sociedade Paulista De Ortodontia
outubro de 1994

A informática encontrou terreno fértil na Cefalometria Radiográfica e nos tratamentos longos da ortodontia.

Muito cedo, iniciaram os ortodontistas a usar os computadores, confundindo-se, no início, o advento da informática na ortodontia e na odontologia. Difícil precisar datas passadas, quando não se têm registros históricos.

É temerário nomear pioneiros. No entanto, é indispensável fazê-lo, quando se pretende fazer um relatório histórico, mesmo temendo pecar por omissões e incorreções. Parece-nos que se devem citar inicialmente: Boris Grinberg, em São Paulo, com o Apple, e Antônio Rego de Almeida, no Rio, com o HP; seus trabalhos desbravadores, no fim da década de setenta, desenvolveram programas de cefalometria computadorizada que frutificaram, direta ou indiretamente, de forma marcante. Oriundo do grupo “Botina roxa”, liderado por Boris, surgiu o primeiro sistema brasileiro, comercializado, de Cefalometria Computadorizada.

Basicamente, continha os estudos cefalométricos, Padrão USP (Tweed, Steiner e Interlandi). foi adquirido por Adolpho Fischman, o pioneiro em documentação ortodôntica empresarial. Esse sistema, ainda rodando em Apple, foi ampliado por José Luiz Cintra Junqueira e outros, alastrando-se por todo o país. Antônio cria diversos aplicativos que complementam os estudos cefalométricos, os quais são difundidos com José Carlos Gaspar e José Márcio Pato, quem amplia e melhora o programa de Cefalometria Radiográfica originado de Bóris, em Apple. Outros sistemas de Cefalometria Radiográfica foram desenvolvidos, destacando-se Gil Fonseca Barison, de São Paulo, com o HP, e Marcos Nadler Gribel, em Belo Horizonte. Gribel, no final de 1981, concluía seu programa de cefalometria em linguagem “BASIC”, utilizando o NEZ8OOO, com 16 K de memória RAM e teclado de membranas.

Em fins de 1982, o sistema de Gribel passou para o Apple e, em meados de 1985. foi transferido para o IBM-XT. O grupo Capelossi (Omnident) passou a comercializar este programa desde 1982, quando ele ainda rodava em Apple. Aliás, é de justiça salientar que deste muito tempo, o grupo Capelossi, acreditando no esplendoroso futuro da informática na Odontologia, investiu com todas as suas forças, neste promissor mercado, que então apenas se vislumbrava. O “Omnidental Computer News “foi o primeiro boletim de informática dirigido à Odontologia exclusivamente. No ano de 1980, João Dulce Barcelos, em Goiânia, e Cléber Bidegain Pereira, em Uruguaiana, iniciam a trabalhar com sistemas de gerenciamento de consultório ortodôntico, emitindo carnês em formulário contínuo, utilizando o CP-5OO. Em 1981, Eros Petrelli desenvolve programa de gerenciamento de consultório ortodôntico, o qual evolui e hoje está sendo comercializado em sua terceira versão.

Em 1984, estimulado por Ricardo Cauduro e contando com a divulgação de ODONTO-NOTÍClAS, forma-se um Grupo Piloto, com o propósito de fundar a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE USUÁRIOS DE COMPUTADORES NA ODONTOLOGIA (ABUCO). O Grupo é assim constituído: Antônio Rego de Almeida, Cléber Bidegain Pereira, Eros Petrelli, Gil Fonseca Barison, João Dulce Barcelos e Ricardo Cauduro Neto. depois de um ano de tratativas preliminares, funda-se a ABUCO, em 16 de outubro de 1985. Teve como primeira diretoria: Presidente, Cléber Bidegain Pereira; Vice-Presidente, Eros Petrelli; 10 Secretário, João Dulce Barcelos; 2 0 Secretário, Renato Pazinatto; 10 Tesoureiro, José Elvídio G. P. Moraes e 20 Tesoureiro, Ben Hur Godolphin. Posteriormente, assumem a presidência José Luís Cintra Junqueira e, atualmente, O dinâmico Waldir Greg, que realizou o primeiro Congresso da ABUCO, acontecido dentro da programação do COMDEX, o INFODONTO-BRASIL 93. Consolida-se, assim, definitivamente. a ABUCO, como uma associação revestida dos maiores e elevados ideais de bem servir a classe odontológica. Inclusive terá, para muito em breve, sua Revista.

O primeiro trabalho publicado, no Brasil, sobre cefalometria computadorizada, de que temos notícias, é de Salvego, R.I. “Análise Cefalométrica por Computador”, Piracicaba Tese de Mestrado, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP, 1981. Aguinaldo de Freitas e Gil Fonseca Barison publicam um capítulo sobre “Cefalometria Computadorizada, no livro “Radiologia Odontológica”, de Aguinaldo de Freitas e outros, em 1984. Antônio Rego de Almeida, em 1984, publica “Análise Cefalométrica Computadorizada”, um capítulo no livro INTRODUÇÃO À CEFALOMETRIA RADIOGRÁFICA, livro texto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A SOCIEDADE PAULISTA DE ORTODONTIA, sempre inovadora e impulsionadora do progresso, sob a presidência de Jairo Corrêa, no VI Congresso Brasileiro de Ortodontia, promove o I SIMPÓSIO DE INFORMÁTICA NA ORTODONTIA E ORTOPEDIA MAXILAR, no dia 14 de outubro de 1992. O evento encontra grande receptividade, comprovando o enorme interesse dos ortodontistas pelos computadores o simpósio foi organizado por Cléber Bidegain Pereira, tendo como coordenador Jairo Corrêa e simposiastas: Antônio Rego de Almeida, Eros Petrelli, Guiovaldo Paiva, José Carlos Gaspar, Marcos Nadler Gribel e Marcos Capelossi. Guiovaldo Paiva demonstra as variadas possibilidades da utilização dos registros computadorizados nos estudos da ATM.

Conclusões do simpósio são publicadas pela Sociedade Paulista de Ortodontia, em seu Jornal Ortodontia, as quais servem como orientação básica, principalmente para aqueles que se iniciam, com a informática na ortodontia. Atualmente, encontra-se a informática altamente difundida na ortodontia, nos consultórios particulares e nos serviços de documentação ortodôntica, os quais proliferam, por todo o Brasil, em proporção maiores do que se poderia imaginar há alguns anos atrás.

Modernos sistemas estão sendo desenvolvidos, por diferentes grupos, para trabalharem dentro do Windows, tanto para a Cefalometria, quanto para o Gerenciamento de consultório ortodôntico. Ressalta o esforço que continua fazendo Antônio Rego de Almeida, criando novos aplicativos computadorizados, que enriquecem as ferramentas de trabalho para o ortodontista desenvolver seu diagnóstico e Plano de tratamento. Marcelo Ribas e Marcos Capelossi perseveram em melhorar e ampliar seus programas de gerenciamento de consultório ortodôntico, que estão sendo comercializados e difundidos por todo o país. Capelossi criou um sistema de gerenciamento que abre portas para atender as características pessoais e peculiaridades de diferentes especialidades odontológicas.

A cada dia fortalece-se a tendência atual, em informática, de utilização dos sistemas especializados, apenas até onde eles são imprescindíveis. Depois, os arquivos são transferidos para programas de utilidade genérica, onde são manipulados com a exuberância e riqueza de recursos que esses programas oferecem. Com esse espírito, Cléber Bidegain Pereira digitaliza pontos craniométricos, em sistema de Cefalometria Computadorizada, que roda dentro do Windows, e utilizando o ‘Clip-Board”, transfere os arquivos gerados para o Corel Graph, onde é feita a Visualização Computadorizada da Expectativa de Tratamento Ortodôntico/Ortognata (VCETO).

A grande vantagem de transferir os arquivos de cefalometria para o Corel Graph e que, sendo ele um programa multiutilitário, com grande riqueza de opções, presta-se, muito bem, para a composição da VCETO, como se tivesse sido feito especialmente para isso, possibilitando, inclusive, a sobreposição do cefalograma sobre a fotografia da face do paciente. A utilização de utilitários genéricos, como no caso o Corel Draw, para a composição da VCETO, vem abrir um novo caminho na Cefalometria Radiográfica computadorizada, permitindo que os serviços de documentação ortodôntica ofereçam aos profissionais, em disquetes, em formato CDR (Corel), as imagens geradas em programas específicos. Possibilitam então, aos ortodontistas, trabalharem o cefalograma, fazendo sua composição de planejamento, em acordo como seu plano, sua filosofia de tratamento e peculiaridades próprias.

Basta que tenham computador com plataforma exigida para o Windows 3.1 Com isso, dispensam-se a mesa digitalizadora, o sistema de Cefalometria Computadorizada e o trabalho de digitar os pontos craniométricos. Representa tudo isso um importante avanço, pois diminui o investimento do ortodontista em tempo, equipamentos e dá-lhe espaço para expressar sua individualidade, originalidade e criatividade. Desperta, no momento, grande expectativa o novo sistema de Cefalometria Computadorizada, DigiGraph, que dispensa as telerradiografias, marcando-se os pontos cefalométricos diretamente no paciente. Cristina Ortolani. Faltin, comparando medidas obtidas através do DigiGraph e da Cefalometria Radiográfica com padrões absolutos mensurados em crânios secos, comprovou que as medidas resultantes do DigiGraph são mais precisas, que os relutados das medidas tradicionais, feitas nas telerradiografias. Além dos avanços que se desvendam com os novos e atualizados sistemas computadorizados, que nos oferecem poderosas ferramentas como eficientes auxiliares do diagnóstico e plano de tratamento, as imagens computadorizadas tomam conta dos arquivos ortodônticos. Com facilidade e fidelidade, modelos, fotografias intra e extra orais e radiografias são levadas para o computador.

Podem ser montadas em conjunto ou separadamente, arquivos eletrônicos, não só das fichas clínicas, como também de todas as imagens, criando imensurável e produtiva facilidade de armazenagem e consulta destes dados. Da mesma forma que os arquivos cefalométricos, estas imagens podem ser colhidas nos Serviços de Documentação Ortodôntica e remetidas, em disquetes, para os ortodontistas. Evidencia-se, claramente, que o passado da informática na ortodontia e os fantásticos avanços da atualidade, são apenas tênues lampejos de clarividência de gloriosos e surpreendentes acontecimentos futuros. Certamente, as máquinas continuarão a ser coisas, as quais necessitam da inteligência e criatividade do homem que lhes comanda. Porém, cada vez mais, serão máquinas maravilhosas que, facilitam trabalho repetitivo do homem, proporcionam-lhe maior tempo para dispender em atividades mais nobres, em busca do ideal da perfeição.

Uruguaiana (RS), 6 de setembro de 1993.

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