Tratamento de dores crônicas com RFA

Tratamento de dores crônicas (cefaléia, dores no braço esquerdo, sinusite) através de dispositivo intra-oral RFA (Regulador de Função Aragão)

Dr Wilson Aragão

Introdução

A razão da realização deste trabalho é para mostrar que a atuação do RFA nas dores crônicas já havia sido percebida pelo idealizador deste aparelho de Ortopedia Funcional dos Maxilares, o Dr Wilson Aragão, e este compartilhou suas idéias e seu trabalho com vários médicos e em diversas oportunidades.

Entre esses médicos, a Dra Denise Conde interessou-se pelo método, pois na sua clínica diária tem centenas de pacientes com este tipo de problema (dor crônica). Foi por ela proposto então um trabalho em conjunto, onde a Dra Conde selecionaria alguns pacientes, para serem documentados segundo o protocolo de diagnóstico e tratamento usado pelo Dr Wilson Aragão.

O objetivo deste trabalho foi demonstrar através deste paciente (caso clínico) a serem tratados pela técnica do RFA e comparados a dezenas de outros casos clínicos tratados na clínica da Dra Conde, que a técnica é eficiente como adjuvante no tratamento das dores crônicas.

Justificativa

Os fatores determinantes da escolha do tema foram a inexistência de tratamentos de dor crônica através da Odontologia e também a não existência de nenhum aparato ortopédico-maxilar no tratamento de dores crônicas.

A importância desse trabalho é enorme, tanto no ponto de vista teórico ou prático, pois o tratamento com o RFA não é invasivo e não tem introdução de fármacos no organismo do indivíduo que já está sobrecarregado de fármacos ao longo da vida. E também fornece mais uma ferramenta no arsenal do tratamento das dores crônicas que pode ser usada como adjuvante em quase todas as especialidades médicas.

Revisão da literatura

Teixeira1, Corrêa2, Olesen3, citam que a ocorrência de dor crônica é crescente nos dias atuais, pois as informações chegam com mais facilidade ao público em geral, pois existem muitas entidades trabalhando no sentido de divulgar os estudos a respeito da mesma.

Yeng e Teixeira4, afirmam que a dor é uma das razões mais freqüentes de consultas médicas.

Bonica5, afirma que de 10% a 50% do público que vai ao clínico geral queixa-se de dor.

Teixeira e Pimenta6, Shibata e Corrêa e Pimenta7, escreveram que no Brasil a dor é a queixa prevalente em cerca de 70% dos pacientes.

James, Large, Bushnell e Wells8 afirmam que do total de pacientes 50% apresentam queixa de dor crônica e devido a dor crônica cerca de 50 a 60% dos doentes tornam-se parcial ou totalmente incapacitados, transitoriamente ou permanentemente ao trabalho.

Magni, Caldieron, Rigatti-Luchini e Merskey9 afirmam que a dor crônica é admitida como tal quando o paciente apresenta duração superior a um mês.

Anderson, Ejlertsson, Leden e Rosenberg10, afirmam que a dor crônica pode ser considerada como tal após a duração de três meses.

Brattberg, Parker e Thorslund11, em trabalho feito na Suécia, afirmam que a dor crônica para ser considerada como tal, deve ter a duração de seis meses.

Andersen, e Worm-Pedersen12 afirmam que a prevalência da dor crônica varia de 7% a 40%.

Aronoff, Evans e Enders13 afirmam em 1983 que nos Estados Unidos da América do Norte o custo da dor crônica foi estimado em 40 bilhões de dólares por ano.

Sterbach14, no Nuprin Pain Report, em um estudo realizado nos Estados Unidos da América do Norte, em 1986, mostrou que cerca de 500 milhões de dias de trabalho forma perdidos devido à dor, entre as pessoas empregadas.

Seers15, afirma que na Europa a dor crônica é classificada como o maior problema de saúde e foi verificado que de 25% a 30% da população dos países industrializados tem dor crônica.

Andrade Sobrinho e Bavad16, Arruda17 e Marque Dias18, em trabalhos feitos com crianças no Brasil mostram que existe uma alta freqüência de dor recorrente, com predominância de cefaléias.

Rosseto mostra em trabalho feito em crianças nas escolas da cidade de Londrina PR, Brasil, que o motivo da ida ao médico foi de 51,37% das vezes por cefaléias.

Pimenta, Cruz, Rosseto, Dellaroza e Kreling20, escrevem que em diversos estudos epidemiológicos realizados em crianças, adolescentes, adultos e idosos mostraram uma alta incidência de dor.

Yeng e Teixeira4 escrevem que os tratamentos para eliminar as dores devem quando possível eliminar a condição que originou a dor. Simplicidade de execução, segurança e baixo custo são atributos da boa assistência.

Corrêa e Pimenta21 escrevem que os tratamentos envolvidos em dor crônica no momento mais usados, isoladamente ou em conjunto são: tratamentos farmacológicos (analgésicos e adjuvantes), procedimentos de medicina física e terapia ocupacional, psicoterapia, procedimentos anestésicos e neurocirúrgicos.

Feldman, Sakata, Issy22, Rocha e Teixeira23 escreveram que estes tratamentos também estão incluídos os que são usados para a Fibromialgia (FM), Síndrome Miofascial (SMF) e Distúrbio Temporomandibular (DTM).

Objetivos

Foram identificados os casos clínicos de dores crônicas, feitos os exames clínicos, tanto na área odontológica, quanto na área médica, que serão mostrados adiante. Foram feitos exames complementares de ambas as especialidades, que serão descritos e analisados. Todos estes elementos foram reunidos e chegou-se a um diagnóstico e foi feito um plano de tratamento, a que cada paciente se comprometeu a realizar, para que seus problemas de dores crônicas fossem resolvidos.

Metodologia

Foi escolhido um universo de 200 pacientes com dor crônica da clínica da Dra Conde para serem tratados com a técnica do RFA.

O diagnóstico do Dr Aragão compreende um exame clínico, com uma anamnese, exame fotográfico (cabeça, boca, corpo inteiro) (fig 1, 2, 3, 4, 5, 6), modelos em gesso das arcadas dentárias (fig 7), radiografias extra-orais, da cabeça e coluna cervical de perfil (fig 8), da cabeça frontal (fig 9), e panorâmica da boca (fig 10).

O diagnóstico da Dra Denise Conde compreendeu os seguintes procedimentos: Exame clínico, tomado de pressão arterial e Eletrocardiograma a cada visita dos pacientes e exames laboratoriais que foram: Hemograma completo, Proteína C Reativa Ultra Sensível, Glicose, Lipidograma, TSH, T4 Livre, Uréia, Creatinina, Ácido Úrico, Eletrólitos (Sódio, Potássio, Cálcio, Magnésio), Hepatograma, Urina EAS, Cultura Antibiograma, Contagem de colônias.

Caso clínico

M.M.S. – 47 anos – sexo feminino – casada – Peso: 62 kg – Altura: 1,60 m.

Queixa principal: Disfunção de ATM – Tendinite braço esquerdo – sinusite. Apresenta um Grau de Mobilidade Articular 4.

Dor à palpação muscular nos músculos Temporal Posterior esquerdo, Masseter goníaco esquerdo, Esternocleidomastoideo direito, Pterigóide Medial Direito e Trapézio Direito.

Língua marcada nas bordas.

Apresenta uma mésio-relacão basal óssea.

Na dinâmica de abertura e fechamento bucal apresenta um movimento de látero-protusão para esquerda. Apresenta “clique” nos dois lados da ATM, sendo que a cabeça da mandíbula do lado esquerdo estava mais retruído e com mais pressão ligamentar.

Apresenta um ACRES (ângulo crânio escapular) menor do lado esquerdo. Mastigação unilateral do lado esquerdo.

Ao exame de RX apresenta todas as cavidades paranasais com sinusite. Apresenta o espaço entre C1 e C2 diminuído e a coluna cervical retilinizada.

Tratamento

  • RFA II + exercícios respiratórios (10 minutos a cada hora em vigília). Início do tratamento: 13/04/2005.
  • Final do tratamento: 16/02/2006.
  • Sem dores na ATM, sem dor à palpação muscular, sem dor no braço esquerdo e sem sinusite.

Cronograma de execução

Após o diagnóstico e selecionado os tipos de RFA (existem quatro modelos) que a pacientes usará num período mínimo de 06 meses e máximo de 12 meses. Os RFA devem ser usados durante as 24 horas do dia, exceto às refeições. Também deve fazer um exercício respiratório de 5 a 10 minutos a cada hora em vigília, apreendendo com os lábios uma corrente metálica fina ou um clipe para papel para aumentar a exterocepção labial conduzida ao cérebro pelo V par craniano, o nervo Trigêmeo26.

A paciente colocou o dispositivo RFA, que foi confeccionado nos seus modelos de gesso das suas arcadas dentárias, pois cada dispositivo é pessoal e único. O RFA fica instalado no vestíbulo bucal (entre as bochechas e a arcada dentária) (fig 11)26.

Quando o paciente deglute ou fala com o RFA instalado no vestíbulo bucal, as ATM (Articulação Têmporo-Mandibular) estarão numa posição espacial ideal, aonde todos os estímulos proprioceptivos, exteroceptivos e de dor crônica levados ao Tálamo, pelos feixes nervosos Dorsolateral, Grácil, Cuneiforme e Espinotalâmico por onde estão trafegando, estarão sendo modulados para menos (os estímulos). 24,25,26

Isto é, quando as ATM estão bem posicionadas a sinalização que ascende ao Tálamo por aqueles feixes é modulada pela sinalização advinda das ATM (direita e esquerda).

Quando a paciente está com o RFA na boca toda a musculatura do sistema estomatognático (boca e seus anexos, incluindo a cintura escapular) está equilibrado estaticamente. Quando a paciente está falando todo o sistema estomatognático está sendo equilibrado dinamicamente.

Discussão

Depois de selecionados os pacientes de ambos os sexos, constatou-se uma esmagadora incidência de mulheres, por serem elas as mais queixosas de dor e mais cuidadosas da saúde.

Na observação da Dra Denise Conde os pacientes que se sentiram mais estimulados seguiram as orientações do tratamento e se livraram do uso crônico de analgésicos e antiinflamatórios que são maléficos à saúde, podendo piorar os quadros de Hipertensão arterial, função Renal e afetar a Medula Óssea.

Sabemos que a dor é multifatorial e quando estamos instáveis emocionalmente ela surge de forma mais intensa.

Todos os casos clínicos apresentavam dores crônicas de várias etiologias, já descritas na metodologia deste trabalho e todas essas dores foram curadas e os pacientes se apresentam bem, mesmo já tendo passado mais de 24 meses após a alta dos mesmos.

Conclusão

Dos pacientes restantes tivemos uma acentuada melhora das dores crônicas (Cefaléias, Enxaquecas, Fibromialgia), sendo aqueles que estavam deprimidos a resposta a essa depressão foi menos satisfatória, porém se beneficiaram com a redução do uso de drogas, melhor aparência facial, tornando-se mais jovens e com melhor auto-estima, melhor simetria corporal e da oxigenação corporal.

Mostramos que respirando exclusivamente pelo nariz (inspiração e expiração) inclusive dormindo, os problemas aqui relatados melhoram consideravelmente. Também mostramos que a técnica do Regulador de Função Aragão (RFA) quando usada corretamente pelo paciente com dor crônica é eficaz na resolução deste problema.

Referências Bibliográficas

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  3. Olesen J – Classificação e Critérios – Diagnósticos das cefaléias, neuralgias cranianas e dor Facial – Lemos Editorial – São Paulo-
    1997.
  4. Yeng LT, Teixeira MJ- Dor crônica- Dor é coisa séria – vol I, n 1, Jan 2005.
  5. Bonica JJ – Treatment of câncer pain: currents status and future needs– Pain ResTher 9: 589-616, 1985.
  6. Teixeira MJ, Pimenta CAM – Epidemiologia da Dor In: Teixeira MJ(ed), Dor conceitos gerais, São Paulo, Limay, 1995.
  7. Teixeira MJ, Shibata MK, Pimenta CAM, Corrêa CF – Dor no Brasil: Estado atuale perspectivas- São Paulo, Limay, 1995.
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  9. Magni G, Caldieron C, Rigatti-Luchini S, Merskey H – Chronic Musculoskeletal pain and depressive simptons in the general population – An analysis of the 1 st National health and nutrition examination survey-Pain 43:293-300 – 1990.
  10. Anderson H, Ejlertsson G, Leden I, Rosenberg C – Chronic Pain in a geographically define general population: Study of diferences in age, gender, social class and pain localization. Clin J. Pain.9:174-182,1993.
  11. Brattberg G, Parker MG, Thorslund M- The prevalence of pain amongst the oldest old in Sweden – Pain 67:29-34,1996.
  12. Andersen S, Worm-Pedersen J – The prevalence of persistent pain in a Danish population- Pain (suppl) 4:332,1987.
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  25. Lent R – Cem bilhões de neurônios – Ed Atheneu, Rio de Janeiro, 2001.
  26. Aragão, W – Regulador de Função Aragão – Ed Santos- São Paulo – 2006.

Figuras e fotos

Dr Wilson Aragão

Cirurgiao Dentista
Especialista em DTM e Dor Orofacial
Especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares
Presidente da AIO-Brasil
Asociación Iberoamericana de Ortodoncistas. (www.iberortodoncia.com)

Clínica privada nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza.
E-mail: wilson_aragao@terra.com.br
Tel.: 021 8851 1705

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