Cleber Bidegain Pereira
Carlos Alberto Mundstock
Telmo Bandeira Berthold
Transcrito do livro
“Introdução à Cefalometria Radiográfica”, Editôra Pancaste
A cefalometria radiografica tem seu marco inicial imediatamente apos a descoberta dos raios X, por Wilhelm Conrad Rontgen, em 1895. Ao nascer, herdava das artes e da craniometria um valioso acervo de conhecimentos. Assim, devemos levar em conta o periodo anterior ao advento da radiografia. Ainda que nao usasse medidas, Hipocrates (460-375 a.C.), pioneiro da antropologia fisica, deixou numerosas descricoes de variacoes na forma dos cranios.
Parece caber a Leonardo da Vinci (l452-1519) os primeiros estudos metricos da cabeca, estabelecendo proporcoes entre linhas e segmentos. Destaca-se o fato de que tenha usado uma linha que passava pelo sutura do frontal com os ossos nasais a o dorso da sela turcica; muito proxima da linha S – N, tao empregada em nossos dias.
Posteriormente, sobressai o trabalho de Pieter Camper (l722-1789), que em 1780 descreve o angulo facial, formado pela interseccao do plano de Camper (que passa pelo centro do conduto auditivo externo e pela base do nariz) com a linha facial (tangente a parte mais proeminente do osso frontal e a leve convexidade anterior do incisivo central superior). Dois anos apos a morte de Pieter Camper, e publicado o seu celebre trabalho Dissertacao sobre as variantes naturais da fisionomia. O angulo facial, de acordo com Camper, tem para o europeu 80 graus; para o negro 70 graus; para o orangotango 58graus; para o macaco 42 graus.
Na Alemanha, em Munchen (l877) e Berlin (l880), e tentado, sem resultados, estabelecer-se um metodo comum para a observacao dos cranios. Somente no XIII Congresso Geral da Sociedade de Antropologia Alema (realizado em Frankfurt-am-Maine em 1882) e definitivamente aprovado o piano de von lhering e aceito, universalmente, como plano de orientacao do cranio. Toda a observacao e descricao do cranio passaram a ser feitas na suposicao de que o cranio esta com este plano na horizontal. O plano tomou o nome de plano horizontal de Frankfurt, ou simplesmente plano de Frankfurt.
O PLANO DE FRANKFURT PODE SER DETERIMINADO TANTO NO CRANIO SECO QUANTO NA CABECA OU NA TELERRADIOGRAFIA
O plano de Frankfurt no cranio passa pela borda superior e externa dos meatos acusticos externos, direitos e esquerdo, e pelo ponto mais baixo na margem da orbita esquerda.
O Plano de Frankfurt na cabeca passa pela borda superior do trago direito e esquerdo (nos condutos auditivos externos), e Pelo Ponto mais baixo na margem da orbita esquerda, determinado pela palpacao
O Plano de Frankfurt na telerradiografia passa pelo ponto mais superior na borda externa do meato acustico externo e pelo ponto mais baixo na margem da orbita. Estes pontos geralmente aparecem duplos na telerradiografia. Torna-se a media entre eles ou os pontos correspondentes ao lado esquerdo da face.
O plano de Frankfurt no cranio passa pela borda superior e externa dos meatos acusticos externos, direitos e esquerdo, e pelo ponto mais baixo na margem da orbita esquerda. O Plano de Frankfurt na cabeca passa pela borda superior do trago direito e esquerdo (nos condutos auditivos externos), e Pelo Ponto mais baixo na margem da orbita esquerda, determinado pela palpacao. O Plano de Frankfurt na telerradiografia passa pelo ponto mais superior na borda externa do meato acustico externo e pelo ponto mais baixo na margem da orbita. Estes pontos geralmente aparecem duplos na telerradiografia. Torna-se a media entre eles ou os pontos correspondentes ao lado esquerdo da face. Segundo Bjork (1947), Welcker, em 1896, um ano apos a descoberta dos raios X, recomenda as radiografias da cabeca para estudar o perfil osseo, e Berglund, em 1914, relaciona o perfil osseo com o perfil tegumentar. * Pacini imobiliza a cabeca do paciente com ataduras de gase, toma radiografias com a plano sagital paralelo a pelicula radiografica, usa a distancia de dois metros entre fonte geradora de raios X e a pelicula. Em 1922 publica Roentqen ray anthropometry of the skull, onde transfere para a radiografia pontos craniometricos usados na antropologia e estuda o desenvolvimento, classificacao e desvios da normalidade na estrutura da cranio. McCowen, em trabalho relatado na reuniao da Pacific Coast Society of Orthodontists, em Los Angeles, e publicado em 1923, descreve uma tecnica para a tomada de radiografias laterais da face, com vistas a pratica ortodontica. Destaca a importancia de observar, nas radiografias, as alteracoes do perfil osseo e tegumentar, a presenca de todos os dentes e a inclinacao de dentes inclusos. Nesta ocasiao, por ser impossivel tomar radiografias seriadas na mesma posicao (nao existiam ainda os cefalostatos), e contestada a validade da sequencia de radiografias para o estudo do crescimento e desenvolvimento do cranio. Por este motivo a cefalometria radiografica ficou ainda algum tempo na area da especulacao. Simpson, professor de radiologia da Universidade de Washington, em St. Louis, apresenta na American Society of Orthodontists, em 1923, um metodo para se obter perfis radiograficos. Nos dez anos seguintes escreve muitos artigos, nos quais se refere a esta tecnica e seus beneficios. Ele desejava que as telerradiografias fossem tomadas na maior distancia que o equipamento permitisse. Usava cinco pes porque era a maior distancia que conseguia nos limites de seu consultorio. Esta distancia difundiu-se e hoje e aceita universalmente como medida padrao. Carrea, professor de ortodontia na Faculdade de Medicina em Buenos Aires, obtem telerradiografias com o perfil osseo e tegumentar perfeitamente nitidos. Para destacar o perfil tegumentar utiliza primeiro um sal de bario, depois um fio de chumbo delineado. Em 1924, na Franca, publica seu trabalho Les radiofacies a profil delinee en orthodontometrie. A contribuicao de Carrea, na fase inicial da cefalometria, e altamente significativa, nao somente em nosso meio como no ambito internacional.
Hofrath publica na Alemanha, em Fortschritte der Orthodontk, numero de abril-junho 1931, trabalho considerado classico na literatura mundial. Utiliza um cefalostato de Korkhaus, ao qual introduz modificacoes. Descreve minuciosamente a sua tecnica radiografica e analises cefalometricas. Usa a plano de Frankfurt, insistindo na necessidade de se assinalar a angulo mandibular.
Broadbent, desde a decada dos anos vinte, depois de concluir seu treinamento na Angle School, havia aderido ao anatomista T. Wigate Todd; o qual, sob o patrocinio da Brush Fundation, realiza estudos longitudinais de criancas, em radiografias da cabeca, e apregoa que a anatomia deve ser estudada fora dos necroterios, em criancas vivas. Esta experiencia previa, com radiografias de perfil, ajudou Broadbent a idealizar seus proprios metodos e aparelhos. Em 1928, com o suporte financeiro do Bolton Fund, inicia investigacao, com telerradiografias da face, em criancas em desenvolvimento. Seu primeiro modelo de cefalostato permitia apenas tomadas laterais da cabeca. Mas, com algumas modificacoes, o adaptou para tomadas frontais. Em 1931, Broadbent, publica “A new X-ray technique and its application to orthodontics”, no Angle Orthodontist de abril (trabalho lido, anteriormente, no Congresso da Chicago Dental Society, em 4 de fevereiro de 1931). Este artigo e reconhecido como o marco inicial da cefalometria radiografica. Utiliza um cefalostato de sua propria concepcao, de excelente qualidade e precisao, que basicamente vem sendo usado ate nossos dias. Impoe, definitivamente, o metodo de mensuracao em radiografias da face, como uma avaliacao cientifica para os problemas ortodonticos. As radiografias seriadas, que antes eram tomadas com cefalostatos imperfeitos e por isso questionado o seu valor, depois de Broadbent passam a ser consideradas imprescindiveis na observacao do crescimento e na avaliacao dos tratamentos ortodonticos.
Em 1937 Broadbent publica dois trabalhos, onde descreve maiores detalhes da tecnica por ele idealizada e estabelece medidas cranio-faciais em criancas normais. Por tudo isso, Broadbent, com muita justica, e considerado o pai da cefalometria radiografica.
Pesquisadores como Schwarz (1930), Brodie (1938), Tweed (1946), Wylie (l947), Bujork (l947), Downs (l948), Steiner (l953), Krogman (l957), Sassouni (l958), Salzman (l960), Ricketts (l960), Thurow (7962) e outros, ampliando e aperfeicoando os estudos fundamentais de seus antecessores, deram sequencia a trajetoria da cefalometria radiografica no mundo, chegando hoje a cefalometria computadorizada. Em nosso meio ressalta o trabalho de Castelino, Provera e Santini, que publicam o primeiro livro de cefalometria em lingua latina: Cefalometria en el diagnostico ortodontico, 1956.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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