Nesta apresentação de caso clínico, observa-se cientificamente o que já se notava clinicamente: há significativo ganho de potência muscular quando reduzida a disfução temporo mandibular.
Foi gratificante para a equipe da Craneum Radiologia participar deste trabalho, onde realizamos o estudo tomográfico e os modelos gnatostáticos.
Comportamento do músculo esquelético em atleta portador de disfunção temporo mandibular
Arnaldo Scarlati, Patricia Tersi, Fernanda S. Arraval, Robert Coachman
Resumo
Sabe-se que o máximo rendimento do músculo esquelético depende do pleno funcionamento do Sistema Gama, controlado pela Formação Reticular que poderá inibir ou facilitar a ação do tônus postural basal.
A articulação temporo mandibular tem uma representação sensorial significativa no Sistema Nervoso Central que poderá estimular de modo positivo ou negativo a reação muscular. Este relato procurou mostrar o efeito da posição espacial da cabeça da mandíbula sobre o comportamento de um músculo esquelético através de registros obtidos com o software T-Scan.
Paciente C.S., atleta profissional de artes marciais, leucoderma, 35 anos de idade, gênero masculino, portador de DTM severa, com queixa de cefaleias diárias, foi tratado com um aparelho ortopédico funcional intra oral (AAS1) que modifica a posição espacial da mandíbula.
O desempenho de um músculo com função normal escolhido aleatoriamente (deltoide) foi testado em duas situações: a primeira com o paciente em oclusão habitual (compressão da zona bilaminar) e a segunda com mudança de postura terapêutica mantida pelo aparelho. Os resultados sugerem respostas diferentes na contração isométrica do músculo esquelético dependendo da posição da cabeça da mandíbula na fossa mandibular do osso temporal.
Introdução
Portadores de disfunção da articulação temporo mandibular (DTM) podem apresentar falhas no tônus postural basal da musculatura esquelética monitorado pelo Sistema Nervoso Central. A posição errada das cabeças mandibulares e a falta da biomecânica fisiológica compromete o controle da postura além de outras sinalizações como a percepção de dores periféricas.
Na oclusão habitual o paciente apresenta compressão da zona bilaminar cuja distância mínima deve ser de pelo menos 3 mm.
O paciente se queixa principalmente de cefaleias diárias. O uso do aparelho intra oral (AAS1) promove a descompressão da zona bilaminar além de orientar a biomecânica fisiológica do sistema. O músculo deltoide foi testado e seu comportamento registrado pelo software do T-Scan.
A instalação do AAS1 promove a descompressão imediata da zona bilaminar. Esta posição modula o comportamento da musculatura esquelética verificado no teste de Cinesiologia Aplicada (AK) sobre o músculo deltoide registrado pelo T-Scan.
Além disto, após a fisioterapia aplicada durante 3 meses com auxílio do aparelho, a cefaleia foi reduzida a 2 episódios desde o inicio do tratamento até a presente data, controladas com um analgésico comum.
Por se tratar de um atleta de artes marciais, foi construído um protetor bucal mantendo a posição espacial da mandíbula mostrada na TC 2.
Metodologia
Paciente e terapeuta posicionados para teste neuromuscular (AK) da integridade do músculo deltoide. Foi solicitado ao paciente força máxima de abdução do braço.
O máximo recrutamento de fibras musculares tipo A ocorre em até 3 segundos. O terapeuta mantém o apoio com sua mão direita garantindo a isometria, estabilizando o ombro contrário com a mão esquerda. Atingida a força máxima, o terapeuta aumenta sua força e o paciente é solicitado a resistir mantendo o recrutamento das fibras durante alguns segundos.
TESTE A – paciente em máximo contato dentário com a cabeça da mandíbula na posição habitual (TC 1).
TESTE B – paciente com AAS1 em máxima oclusão com mudança terapêutica da posição espacial da cabeça da mandíbula (TC 2).
Em ambos os casos um sensor de pressão do T-Scan foi colocado entre a mão do terapeuta e o braço do paciente. Os registros dos dois testes foram gravados pelo software do equipamento e mostrados graficamente.
Aparelho ortopédico funcional intra oral (AAS1) utilizado no tratamento da disfunção temporo mandibular. Mantém a mudança de postura da mandíbula eliminando a compressão da zona bilaminar (TC 2). Encaixado na maxila, sobre os dentes pre molares e primeiros molares, permite conforto total em qualquer atividade. Os dentes inferiores se encaixam sempre na posição de conforto (mínima dimensão vertical de oclusão). Sua superfície oclusal contém trajetórias correspondentes às dos músculos mastigatórios. As deglutições salivares constantes e a fisioterapia aplicada permitem uma aferência fisiológica ao SNC que não interfere na função da Formação Reticular.
Resultados
TESTE A – Paciente em oclusão máxima (MIC). O espaço articular posterior está diminuído com compressão da zona bilaminar
TESTE B – Paciente com mudança de postura terapêutica mantida pelo AAS1 promovendo descompressão da zona bilaminar
O comportamento do músculo deltoide nos dois testes deve ser interpretado graficamente pela linha escura.
TESTE A – Iniciado o teste, em 3 segundos foi solicitada contração isométrica máxima. O recrutamento apresenta-se de forma irregular e a força máxima é mantida por 16,87%. Após 3 segundos, o alongamento do músculo é conseguido sem resistência por parte do paciente.
TESTE B – O recrutamento é conseguido de forma mais uniforme no inicio e consegue manter-se em contração máxima 100% do tempo, mesmo após a tentativa de alongamento exercida pelo terapeuta. Isto se verifica até o final do teste.
Discussão
O comportamento diferente do músculo deltoide durante os dois testes (A e B) é causado pela posição espacial que a cabeça da mandíbula ocupa na cavidade mandibular do osso temporal. Os pacientes com disfunção da ATM excitam de forma importante o Sistema Somestésico (exterocepção, propriocepção e nocicepção). Este por sua vez exerce uma influência positiva na área supressora da Formação Reticular que controla o Sistema Gama. Os neurônios motores A-Gama se encarregam de manter o tamanho ideal dos músculos esqueléticos através da ação das fibras musculares intra fusais que ajustam a facilitação/inibição das fibras musculares extra fusais, via arco-reflexo, envolvendo aferentes Ia e neurônios motores A-Alfa.
A articulação temporo mandibular detém 24% de toda propriocepção distribuída pelo corpo humano. Qualquer posição errada, principalmente a que comprime a zona bilaminar, bem como a falta da biomecânica articular fisiológica, é capaz de interferir negativamente na função da Formação Reticular afetando entre outras coisas a manutenção do tônus postural basal de toda musculatura esquelética.
Atletas de alto desempenho portadores de disfunção temporo mandibular estão mais propensos a desenvolver lesões musculares por esforço, sem causa específica, independente da preparação segmentar (treinamento) a que se submetem.
Conclusão
- A posição espacial da cabeça da mandíbula exerce influência importante na Formação Reticular do Sistema Nervoso Central.
- O tônus postural basal controlado pelo Sistema Gama pode ser influenciado pela ATM.
- Atletas de alto rendimento portadores de disfunção temporo mandibular estão mais predispostos à lesões da musculatura esquelética quando submetidos à esforço máximo.
Referências
- DOUGLAS, C.R. Tratado de Fisiologia médica aplicada às ciências da saúde, 1 ed. Robe Editorial. 1994.
- KENDALL, et al. Músculos, provas e funções. Ed. Manole, São Paulo. 2007.
- SCARLATI, A. A Influência da aferentação funcional da ATM na Modulação da dor crônica. In: Congresso Internacional da Dor FMUSP; São Paulo. Anais. São Paulo. 2007.
- WHALTER DS. Applied Kinesiology. Colorado Systems DC. 2000
Agradecimentos
- Well Clinic Odontologia – A Coachman concept
- Craneum Radiologia e Documentação Odontológica
Contato
- arnaldo_scarlati@uol.com.br